Confira avaliação dos especialistas sobre se ainda há espaço para novas startups no Brasil.
Com a disponibilidade de mais capital no mercado, muitos empreendedores foram atraídos pela ideia de criar negócios inovadores, impulsionados por um modelo de negócios sustentável e um time qualificado. Essa onda de otimismo trouxe um influxo de investimentos em startups, especialmente nos anos de 2021 e 2022, marcando um período de euforia e crescimento sem precedentes.
Entretanto, o ano de 2023 marcou um ponto de inflexão, segundo o CEO da ACE Ventures, Pedro Waengertner: “O mercado é cíclico. Experimentamos um ciclo de juros muito baixo globalmente, o que levou a um aumento de capital disponível. Com isso, muitos investimentos foram direcionados para ativos alternativos, como startups, resultando em uma onda de unicórnios.” Esta fase foi impactada por diversos fatores, incluindo a inflação global, a guerra na Ucrânia, e a alta dos juros no Brasil.
A consequência foi uma postura mais cautelosa dos investidores, que passaram a priorizar startups com modelos de negócios mais sólidos e com melhores perspectivas de geração de caixa.
Como o mercado encarou a situação
O ajuste do mercado resultou em uma reavaliação das expectativas tanto para investidores quanto para empreendedores. As startups, antes vistas como uma via rápida para o sucesso financeiro e profissional, começaram a ser encaradas de maneira mais realista. O diretor geral da Robert Half para a América do Sul, Fernando Mantovani, observa:
“À medida que o capital secou, o movimento se inverteu. As pessoas começaram a deixar o mundo das startups em busca de oportunidades mais estáveis.” Isso gerou um certo desapontamento entre profissionais que sonhavam com uma rápida ascensão financeira através das startups.
A realidade atual exige uma redefinição do que significa ser bem-sucedido em uma startup. Como Pedro Waengertner aponta: “Ficar rico rápido não é a norma como empreendedor. É mais comparável a ganhar na loteria.” Além disso, Fernando Mantovani adiciona que a escolha do profissional pelo empreendedorismo deve considerar fatores como o espírito empreendedor, o ambiente de trabalho menos formal e a dedicação exigida, não apenas o potencial financeiro.
No centro dessa discussão está a importância da inovação e como ela é fomentada dentro das empresas. Líderes têm um papel crucial na promoção de uma cultura inovadora.
Eles devem comunicar a importância da inovação, criar um ambiente de confiança onde ideias possam ser compartilhadas livremente, e incentivar a experimentação. “Se você cria uma cultura do medo de errar, como você vai inovar?”, questiona Fernando Mantovani.
Inovar é o caminho
A inovação não depende apenas de habilidades técnicas (hard skills), mas também, e talvez principalmente, de habilidades comportamentais (soft skills). Criatividade, pensamento crítico, resolução de problemas, comunicação e colaboração são fundamentais para pensar fora da caixa e identificar oportunidades. Pedro Waengertner destaca: “O soft skill é a forma como você lida com as coisas. Isso faz a diferença.”
Além disso, em um mundo cada vez mais volátil, a preparação e a adaptabilidade são essenciais. Fernando Mantovani aconselha: “Tudo começa com a curiosidade sobre o que acontece no mundo. Depois, é preciso buscar profundidade naquilo que é importante.”
Em suma, o ecossistema de startups no Brasil está em um momento de transição. Embora o caminho para o sucesso possa ter se tornado mais árduo, ainda há oportunidades abundantes para aqueles dispostos a se adaptar e inovar. Com um foco renovado em inovação sustentável e habilidades essenciais, o mercado de startups brasileiro está preparado para um crescimento mais equilibrado e promissor nos próximos anos.